Caixas de Música

Pelo Douro. Na cave de casa dos meus pais. Parece que nas caves das casas cabe o mundo inteiro. Já na casa da minha avó se passava o mesmo. Na altura era todo o meu mundo. Entre as mobílias que a bisavó trouxe do Brasil, os vestidos da minha mãe, os pássaros dos meu tio, os baús que vieram de África e que ele mantinha fechados.

Hoje, reencontrei as caixas de música da minha infância. Mais gastas, mas ainda com música. Nem precisei de procurar as molas para as fazer tocar enquanto os bailarinos giram. Fiquei a saber que a maior delas foi oferecida à minha mãe por um pretendente. Mas, consequência de familiares em África, o que o dito moço não sabia é que a minha mãe já tinha cinco e não ficou minimamente impressionada com a oferenda.

Acabei por pedir à minha mãe uma das minhas caixas favoritas. Preta, com gravuras chinesas, interior rosa, dois bailarinos e espelhos. Vou colocá-la na cómoda do meu quarto. A favorita da minha infância, essa, preferi deixá-la na cave.