No dia em que o meu pai faria anos ...

Fui ao mercado. Um mercado dos lavradores, à seria, sem aquela cena dos agricultores biológicos. Com poucas bancas, perto de casa e com horários das pessoas que se levantam com aa galinhas. Muitas vezes chego e já não há muita coisa. Chego tarde claro. 
Tem de vir mais cedo menina. 
Depois o meu filho começou a ter treinos de futebol. E eu há muito que já não ía.
A minha mãe também gostava de ir a este mercado. Comprava essencialmente ao Sr. Carlos. Batatas,  cenouras. Tomate coração de Boi. O meu filho adorava os pepinos. Uma vez ele foi comigo e o Sr. Carlos deu lhe um saco deles.
O sr. Carlos estava na banca com a mulher. Que não era boa a fazer contas e se esquecia sempre das encomendas.  O sr. Carlos tinha as mãos de quem trabalha no campo. Alto. Entroncado e sempre bom de conversa. 
O seu menino ainda gosta dos pepinos?

Um dia não o vi. Pensei que estaria doente. Ontem o lugar dele estava ocupado.  Não por alguém novo mas pela banca do lado que ficou maior.
Perguntei por ele. Um dia saiu a um domingo,  com a mulher e a filha. Iam dar uma volta. Tiveram um acidente. Morreu logo ali.

E eu pensei que a vida é fodida. 

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